Os Maias - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 360 / 630

- Rosa, vai lá para dentro, disse Maria Eduarda, depois de um momento de silêncio... Miss Sarah está à tua espera.

Depois, olhando para Carlos, muito séria:

- De sorte que, se eu não mostrasse desejos de ir para o campo, não tinha feito essa despesa...

- Tinha feito a mesma despesa... Tinha também alugado a casa por seis meses ou por um ano... Onde possuía eu agora de repente um sitio para meter as coisas do Craft? O que não fazia talvez era comprar conjuntamente roupas de cama, roupas de mesa, mobílias dos quartos dos criados, etc...

E acrescentou, rindo:

- Ora se me quiser indemnizar disso podemos debater esse negocio...

Ela baixou os olhos, reflectindo, lentamente.

- Em todo o caso seu avô e os seus amigos devem saber daqui a dias que me vou instalar nessa casa... E devem compreender que a comprou para que eu lá me instalasse...

Carlos procurou o seu olhar que permanecia pensativo, desviado dele. E isto inquietou-o - o vê-la assim retrair-se àquela absoluta comunhão de interesses em que a queria envolver, como esposa do seu coração.

- Não aprova então o que fiz? Seja franca...

- Decerto... Como não hei de eu aprovar tudo quanto faz, tudo quanto vem de si? Mas...

Ele acudiu, apoderando-se das suas mãos, sentindo-se triunfar:

- Não há mas! O avô e os meus amigos sabem que eu tenho uma casa no campo, inútil por algum tempo, e que a aluguei a uma senhora. De resto, se quiser, meteremos nisto tudo o meu procurador... Minha cara amiga, se fosse possível que a nossa afeição se passasse fora do mundo, distante de todos os olhares, ao abrigo de todas as suspeitas, seria delicioso... Mas não pode ser!... alguém tem de saber sempre alguma coisa; quando não seja senão o cocheiro que me leva todos os dias a sua casa, quando não seja senão o criado que me abre todos os dias a sua porta... há sempre alguém que surpreende o encontro de dois olhares; há sempre alguém que adivinha de onde se vem a certas horas... Os deuses antigamente arranjavam essas coisas melhor, tinham uma nuvem que os tornava invisíveis. Nós não somos deuses, felizmente...





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