Os Maias - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 364 / 630

Castro Gomes não era um esposo a sério: era um dandy, um fútil, um gomeux, um homem de sport e de cocotes... Casara com uma mulher bela, saciara a paixão, e recomeçara a sua vida de club e de bastidores... Bastava olhar para ele, para a sua toilete, para os seus modos - e compreendia-se logo a trivialidade daquele caracter...

- Que tal é como homem? perguntou Ega.

- Um brasileirito trigueiro, com um ar espartilhado... Um rastaquouère, o verdadeiro tipozinho do Café de la Paix... É possível que sinta, quando isto vier a suceder, um certo ardor na vaidade ferida... Mas é um coração que se há de consolar facilmente nas Folies Bergères.

Ega não dizia nada. Mas pensava que um homem de club, e mesmo consolável nas Folies Bergères, pode todavia amar muito sua filha... Depois, atravessado por uma outra ideia, acrescentou:

- E teu avô?

Carlos encolheu os ombros:

- O avô tem de se afligir um pouco para eu poder ser profundamente feliz; como eu teria de ser desgraçado toda a minha vida se quisesse poupar ao avô essa contrariedade... O mundo é assim, Ega... E eu, nesse ponto, não estou decidido a fazer sacrifícios.

Ega esfregou lentamente as mãos, com os olhos no chão, repetindo a mesma palavra, a única que lhe sugeria todo o seu espírito perante aquelas coisas veementes:

- É de arromba!





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