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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 363
Mas hesitou ainda, acendeu outra cigarrete. Justamente o Ega tomará o seu castiçal, e começava a: acende-lo a uma serpentina, devagar e com um ar amuado.

- Não sejas tolo, não te vás deitar, senta-te aí, disse Carlos.

E contou-lhe tudo miudamente, difusamente, desde o primeiro encontro, à entrada do Hotel Central, no dia do jantar ao Cohen.

Ega escutava-o, sem uma palavra, enterrado no fundo do sofá. Supusera um romancezinho, desses que nascem e morrem entre um beijo e um bocejo: e agora, só pelo modo como Carlos falava daquele grande amor, ele sentia-o profundo, absorvente, eterno, e para bem ou para mal tornando-se daí por diante, e para sempre, o seu irreparável destino. Imaginara uma brasileira polida por Paris, bonita e fútil, que tendo o marido longe, no Brasil, e um formoso rapaz ao lado, no sofá, obedecia simplesmente e alegremente à disposição das coisas: e saía-lhe uma criatura cheia de carácter, cheia de paixão, capaz de sacrifícios, capaz de heroísmos. Como sempre, diante destas coisas patéticas, murchava-lhe a veia, faltava-lhe a frase; e quando Carlos se calou, o bom Ega teve esta pergunta chocha:

- Então estás decidido a safar-te com ela?

- A safar-me, não; a ir viver com ela longe daqui, decididíssimo!

Ega ficou um momento a olhar para Carlos como para um fenómeno prodigioso, e murmurou:

- É de arromba!

Mas que outra coisa podiam eles fazer? Daí a três meses talvez, Castro Gomes chegava do Brasil. Ora nem Carlos, nem ela, aceitariam nunca uma dessas situações atrozes e reles em que a mulher é do amante e do marido, a horas diversas... Só lhes restava uma solução digna, decente, seria - fugir.

Ega, depois de um silêncio, disse pensativamente:

- Para o marido é que não é talvez divertido perder assim, de uma vez, a mulher, a filha, e a cadelinha...

Carlos ergueu-se, deu alguns passos pelo quarto. Sim, também ele já pensara nisso... E não sentia remorsos - mesmo quando os pudesse haver no absoluto egoísmo da paixão... Ele não conhecia intimamente Castro Gomes: mas tinha podido adivinhar o tipo, reconstruí-lo, pelo que lhe dissera o Dâmaso, e por algumas conversas com miss Sarah.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 363

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605