Os Maias - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 375 / 630

Por vezes mesmo exigia uma alteração. E era realmente como se aquele homem que a seguia, enternecido e radiante, fosse apenas um velho senhorio.

- O quarto com as duas janelas, ao fundo do corredor, seria o melhor para Rosa. Mas a pequena não pode dormir naquele enorme leito de pau preto...

- Muda-se!

- Sim, pode mudar-se... E falta uma sala larga para ela brincar, às horas do calor... Se não houvesse o tabique entre os dois quartos pequenos...

- Deita-se abaixo

Ele esfregava as mãos, encantado, pronto a refundir toda a casa; e ela não recusava nada, para conforto mais perfeito dos seus.

Desceram à sala de jantar. E aí, diante da famosa chaminé de carvalho lavrado, flanqueada à maneira de cariátides pelas duas negras figuras de Núbios, com olhos rutilantes de cristal, Maria Eduarda começou a achar o gosto do Craft excêntrico, quase exótico... Também Carlos não lhe dizia que Craft tivesse o gosto correcto de um ateniense. Era um saxónio batido de um raio de sol meridional: mas havia muito talento na sua excentricidade...

- Oh, a vista é que é deliciosa! exclamou ela chegando-se à janela.

Junto do peitoril crescia um pé de margaridas, e ao lado outro de baunilha que perfumava o ar. Adiante estendia-se um tapete de relva, mal aparada, um pouco amarelada já pelo calor de julho; e entre duas grandes árvores que lhe faziam sombra, havia ali, para os vagares da sesta, um largo banco de cortiça. Um renque de arbustos cerrados parecia fechar a quinta daquele lado como uma sebe. Depois a colina descia, com outras quintarolas, casas que se não viam, e uma chaminé de fábrica; e lá no fundo o rio rebrilhava, vidrado de azul, mudo e cheio de sol, até às montanhas d'além-Tejo, azuladas também na faiscação clara do céu de verão.

- Isto é encantador! repetia ela.

- É um paraíso! Pois não lhe dizia eu? É necessário pôr um nome a esta casa... Como se há de chamar? Vila-Marie? Não. Château-Rose... Também não, credo! Parece o nome de um vinho. O melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que nós lhe dávamos. Nós chamávamos-lhe a Toca.





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