- Mas a culpa não a teve ela, meu caro senhor! Foi a mãe, foi aquela extraordinária mãe que o Diabo lhe deu!...
Desciam o Chiado. Ega parou um momento, devorando o velho com olhos de febre:
- O Sr. Guimarães conheceu muito essa senhora, a Monforte?
Intimamente! Já a conhecera em Lisboa - mas de longe, como mulher de Pedro da Maia. Depois viera essa tragédia, ela fugira com o italiano. Ele abalara também para Paris nesse ano, com uma Clemence, uma costureira da Levailant: e, umas coisas enfiando
noutras, negócios e desgraças, por lá ficara para sempre! Enfim, não era a sua vida que lhe ia contar... Só mais tarde encontrara a Monforte, uma noite, no baile Laborde: e daí datavam as suas relações. A esse tempo já o italiano morrera num duelo, e o velho Monforte espichara da bexiga. Ela estava então com um rapaz chamado Trevernes - numa casa bonita, no Parc Monceaux, em grande chic... Mulher extraordinária! E não se envergonhava de confessar que lhe devia obrigações! Quando essa rapariga, a Clemence, que era um encanto, adoecera do peito, a Monforte trazia-lhe flores, frutas, vinhos, fazia-lhe companhia, velava-a como um anjo...
Porque lá isso coração largo e generoso atá ali! Esta, a filha, a D. Maria, tinha então sete ou oito anos, linda como os amores... E houvera uma outra pequena do italiano, muito galantinha tarobem. Oh! muito galantinha também! Mas morrera em Londres, essa...
- E com esta Maria andei muitas vezes ao colo, meu caro senhor... Não sei se ela ainda se lembra de uma boneca que eu lhe dei, que falava, dizia Napoleão... Era no belo tempo do Imperio, até as desavergonhadas das bonecas eram imperialistas! Depois, quando ela estava em Tours, no convento, fui lá duas vezes com a mãe. Já então os meus princípios me não permitiam entrar nesses covis religiosos: mas enfim fui acompanhar a mãe...