Ega ficou a olhar para o Vilaça. O procurador só pôde murmurar, com as mãos cruzadas sobre a mesa:
- Que bolada! Que bolada!
Então Ega ergueu-se. Bem! Agora tudo se simplificava. Havia unicamente a entregar aquele documento a Carlos, sem comentários. Mas o Vilaça coçava a cabeça, retomado por uma duvida:
- Eu não sei se este papelinho faria fé em juízo...
- Qual fé, qual juízo! exclamou Ega violentamente. É o bastante para que ele não torne a dormir com ela!...
Uma pancada tímida na porta do cubículo fê-lo estacar, inquieto. Desandou a chave. Era o escrevente, que segredou através da frincha:
- O Sr. Carlos da Maia ficou agora lá em baixo no carrinho quando eu entrei, perguntou pelo Sr. Vilaça.
Houve um pânico! Ega, atarantado, agarrara o chapéu do Vilaça. O procurador atirava às mãos ambas, para dentro de uma gaveta, os papeis da Monforte.
- É talvez melhor dizer que não está, lembrou o escrevente.
- Sim, que não está! foi o grito abafado de ambos.
Ficaram à escuta, ainda pálidos. O dog-cart de Carlos rolou na calçada; os dois amigos respiraram. Mas agora Ega arrependia-se de não terem mandado subir Carlos - e ali mesmo, sem outras vacilações nem pieguices, corajosamente, contarem-lhe tudo, diante daqueles papeis bem abertos. E estava saltado o barranco!
- Homem, dizia o Vilaça passando o lenço pela testa, as coisas querem-se devagar, com método.