O avô, às vezes, vinha passar uma, duas semanas a Celas. Nos primeiros tempos a sua presença, agradável aos cavalheiros da partilha de whist, desorganizou o cavaco literário. Os rapazes mal ousavam estender o braço para o copo da cerveja; e os vossa excelência isto, vossa excelência aquilo, regelavam a sala. Pouco a pouco, porém, vendo-o aparecer em chinelas e de cachimbo na boca, estirar-se na poltrona com ares simpáticos de patriarca boémio, discutir arte e literatura, contar anedotas do seu tempo de Inglaterra e de Itália, começaram a considerá-lo como um camarada de barbas brancas. Diante dele já se falava de mulheres e de estroinices. Aquele velho fidalgo, tão rico, que lera Michelet e o admirava - chegou mesmo a entusiasmar os democratas. E Afonso gozava ali também horas felizes, vendo o seu Carlos centro daqueles moços de estudo, de ideal e de veia.
Carlos passava as férias grandes em Lisboa, às vezes em Paris ou Londres; mas por Natais e Pascoas vinha sempre a Santa Olávia, que o avô mais só se entretinha a embelezar com amor. As salas tinham agora soberbos panos de Arraz, paisagens de Rousseau e Daubigny, alguns móveis de luxo e de arte. Das janelas a quinta oferecia aspectos nobres de parque inglês: através dos macios tabuleiros de relva, davam curvas airosas as ruas areadas: havia mármores entre as verduras; e gordos carneiros de luxo dormiam sob os castanheiros.