No final de março fiquei com uma das mãos infecionada e foi preciso rasgá-la e usar tipóia. Fui para um hospital, mas não valia a pena mandar-me até Sietamo por tão pouco, de modo que fiquei naquilo a que chamavam hospital, em Monflorite, e que era apenas um posto de triagem para as baixas. Fiquei ali dez dias, parte desse tempo em leito. Os praticantes (auxiliares de hospital) roubaram praticamente todos os objetos que eu possuía, inclusive minha máquina fotográfica e todas as fotografias já tiradas. Na linha de frente todos roubavam, sendo isso o efeito inevitável da escassez, mas no hospital encontravam-se os piores ladrões. Mais tarde, no hospital em Barcelona, um norte-americano que viera juntar-se à Coluna Internacional em navio que fora torpedeado por submarino italiano, contou-me como fora levado para a costa ferido, e como os padioleiros furtaram seu relógio de pulso, quando o carregavam até à ambulância.
Enquanto meu braço esteve na tipóia passei alguns dias deliciosos, percorrendo os arredores. Monflorite era o aglomerado comum de casas feitas de barro e pedra, com becos estreitos e tortuosos que foram batidos pelos caminhões até se transformarem em coisas semelhantes às crateras da lua. A igreja fora bastante abalada, mas era utilizada como depósito militar. Em toda a vizinhança havia apenas duas casas de fazenda de dimensões maiores, Torre Lorenzo e Torre Fabián, e somente duas construções realmente grandes, que com certeza eram as residências dos latifundiários, senhores do campo. Podia-se ver sua riqueza refletida nas choças miseráveis dos camponeses.