Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: Capítulo 4

Página 45

Esse outro homem tinha as pernas mais altas e os braços mais compridos e os seus músculos não eram Ido roliços e empolados, mas fibrosos e com nós salientes. O seu cabelo era comprido e desgrenhado, emoldurando um crânio que obliquava para trás a partir dos olhos. Soltava sons estranhos e parecia estar receoso da escuridão, que ele continuamente perscrutava, firmando na mão, que pendia a meio da canela, um cacete com uma pesada pedra encastoada na ponta. Praticamente nu, tinha apenas uma pele rota e chamuscada a cobrir-lhe parte das costas, enquanto o corpo era todo coberto de pêlo abundante. Nalguns sítios, como no peito, nos ombros e na parte exterior dos braços e das coxas até abaixo, formava uma verdadeira pelagem. Não se mantinha erecto, mas com o tronco inclinado para a frente por altura das ancas, sobre as pernas, que arqueavam nos joelhos. Do seu corpo emanava uma agilidade, ou elasticidade, peculiar, quase felina, e uma vivacidade fugaz de alguém que vive no terror constante do visível e invisível.

Outras vezes, o homem peludo aparecia acocorado junto da fogueira e, com a cabeça reclinada entre as pernas, dormia. Tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos enclavinhadas sobre a cabeça, como que a protegê-la da chuva com os seus braços peludos. E para lá dessa fogueira, na escuridão envolvente, Buck via vários pontos luminosos, a dois e dois, sempre a dois e dois, que ele sabia serem os olhos de feras enormes. E ouvia repercutido no solo o estrépito dos seus corpos e os barulhos que eles faziam durante a noite. E assim sonhando, junto à margem do Yukon, com os olhos toldados e fixos na fogueira, estes sons e visões do outro mundo eriçavam-lhe o pêlo todo ao longo das costas, nas espáduas e no pescoço, fazendo-o ganir em tom baixo e abafado, ou rosnar suavemente, até que o cozinheiro mestiço lhe gritasse: «Eh! Buck, acorda!» Só então o velho mundo se desvanecia e nos seus olhos penetrava o mundo real. Levantando-se, bocejava e espreguiçava-se, como se tivesse estado a dormir.

<< Página Anterior

pág. 45 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro O apelo da floresta
Páginas: 99
Página atual: 45

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 6 67
Capítulo 7 82
Capítulo 1 1
Capítulo 2 13
Capítulo 3 23
Capítulo 4 39
Capítulo 5 50