O apelo da floresta - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 77 / 99

Meia tonelada! A enormidade daquilo aterrava-o. Tinha uma grande fé na força de Buck e mais de uma vez o considerara capaz de arrancar tamanha carga; mas nunca, como agora, encarará essa possibilidade, com os olhos de uma dúzia de homens pregados nele, silenciosos e expectantes. Além disso, não tinha mil dólares; nem tão pouco Hans ou Pete.

— Tenho agora mesmo um trenó lá fora precisamente carregado com vinte sacos de farinha de vinte e cinco quilos cada um — confirmou Mathewson, brutal e directo. — Portanto, não há problema para você, creio eu.

Thornton não respondeu. Não sabia o que havia de dizer. Olhou para as caras de cada um com o ar abstracto de quem perdeu a capacidade de pensar e procura algures qualquer coisa que lha faça voltar de novo. Os seus olhos foram, então, atraídos pela cara de Jim O`Brien, um «rei» de Mastodon e camarada de tempos antigos. Foi como se tivesse recebido um estímulo, levando-o à fazer uma coisa que nunca sonhara vir algum dia a fazer.

— Emprestas-me mil dólares? — perguntou, quase num murmúrio.

— Mas com certeza — respondeu O`Brien, atirando com um saco repleto de ouro para junto do de Mathewson —, embora não acredite muito, caro John, que o bicho consiga tal coisa.

O Eldorado despojou-se dos seus fregueses, que, na rua, queriam assistir à grande prova. As mesas ficaram desertas e os negociantes e guardas florestais aglomeraram-se, também, no local, para verem qual 0 montante das paradas e fazerem as suas apostas. Perto de cem homens, cobertos de peles e enluvados, se postaram em volta do trenó, a uma distancia adequada. O trenó de Mathewson, ajoujado com os quinhentos quilos de farinha, já há um bom par de horas que se encontrava parado, e, com o frio intenso que fazia (coisa de sessenta graus abaixo de zero), os patins tinham gelado e aderido firmemente à neve batida.