Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 257 / 273

Como poderia atingir a consciência deles ou projectar a sua sombra sobre a imaginação das suas filhas, antes que os seus fidalgos rurais as fecundassem, de modo que elas gerassem uma raça menos ignóbil do que a sua? E, a coberto do crepúsculo que caía, imaginou os pensamentos e desejos da raça a que pertencia a esvoaçarem como morcegos pelas escuras ruelas rurais, por debaixo das árvores à beira dos regatos e junto dos pântanos pontilhados de poças. Uma mulher tinha aguardado, à porta, quando Davin passara de noite e, oferecendo-lhe uma caneca de leite, por pouco não o convidara a ir para a cama com ela; porque Davin tinha o olhar suave de quem guarda segredos. Mas a ele, mulher alguma o cortejara.

O seu braço foi fortemente agarrado e a voz de Cranly disse:

- Vamo-nos embora daqui.

Caminharam em silêncio, em direcção à zona sul. Então ranly disse:

- Que grande idiota é aquele Temple! Juro por Moisés que, um dia, ainda dou cabo daquele fulano.

Mas já não havia ira na sua voz e Stephen perguntou a si mesmo se ele estaria a pensar no cumprimento dela, por debaixo do pórtico.

Voltaram à esquerda e continuaram a caminhar. Ao fim de algum tempo, Stephen disse:

- Cranly, tive uma discussão muito desagradável, esta tarde.

- Com a tua família? - perguntou Cranly.

- Com a minha mãe.

- Sobre religião?

- Sim - respondeu Stephen.

Após uma pausa, Cranly perguntou:

- Que idade tem a tua mãe?

- Não é velha - disse Stephen, - Ela quer que eu cumpra os deveres pascais.

- E vais cumpri-los?

- Não - disse Stephen.

- Porque não? - perguntou Cranly.

- Não servirei - respondeu Stephen.

- Já alguém fez essa observação antes de ti - disse Cranly, calmamente.

- Já está feita - declarou Stephen com veemência.





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