A Confissão de Lúcio - Cap. 3: CAPÍTULO 1 Pág. 12 / 93

Ah! como Gervásio tinha razão, como eu no fundo abominava essa gente - os artistas. Isto é, os falsos artistas cuja obra se encerra nas suas atitudes; que falam petulantemente, que se mostram complicados de sentidos e apetites, artificiais, irritantes, intoleráveis. Enfim, que são os exploradores da arte apenas no que ela tem de falso e de exterior.

Mas, na minha incoerência de espírito, logo me vinha outra ideia: - Ora, se os odiava, era só afinal por os invejar e não poder nem saber ser como eles…

Em todo o caso, mesmo abominando-os realmente, o certo é que me atraíam como um vício pernicioso.

Durante uma semana - o que raro acontecia - estive sem ver Gervásio.

Ao fim dela, apareceu-me e contou-me:

- Sabe, tenho estreitado relações com a nossa americana. É na verdade uma criatura interessantíssima. E muito artista… Aquelas duas pequenas são amantes dela. É uma grande sáfica.

- Não…

- Asseguro-lhe.

E não falamos mais da estrangeira.

* * *

Passou-se um mês. Eu já me esquecera da mulher fulva, quando uma noite o escultor me participou de súbito:

- É verdade: aquela americana que eu lhe apresentei outro dia dá amanhã uma grande soirée. Você está convidado.

- Eu!? ..

- Sim. Ela disse-me que levasse alguns amigos. E falou-me de si. Aprecia-o muito… Aquilo deve ser curioso. Há uma representação no fim - umas apoteoses, uns bailados ou o quer que é. Entanto se é maçador para você, não venha. Eu creio que estas coisas o aborrecem…

Protestei, idiotamente ainda, como era meu hábito; afirmei que, pelo contrário, tinha até um grande empenho em o acompanhar, e marcamos rendez-vous para a noite seguinte, na Closerie, às dez horas.

No dia da festa, arrependi-me de haver aceitado. Eu era tão avesso à vida mundana… E depois, ter que envergar um smoking, perder uma noite…

Enfim… enfim…

Quando cheguei ao café - caso estranho! - já o meu amigo chegara.





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