O Retrato de Dorian Gray - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 127 / 335

Dorian Gray olhou para ela e empalideceu. Estava intrigado e ansioso. Nenhum dos seus amigos ousava falar-lhe. Achavam-na absolutamente incompetente. Fora uma horrível decepção.

Todavia, sabiam que a verdadeira pedra de toque de qualquer Julieta é, no segundo acto, a cena da varanda. Esperaram. Se ela aí falhasse, é porque nenhum mérito possuía.

Quando apareceu ao luar, era verdadeiramente adorável. Ninguém o podia negar. A sua maneira de representar, porém, era insuportável, e, à medida que ia avançando, ia sendo cada vez pior. Os gestos tornavam-se absurdamente artificiais. Dava uma ênfase exagerada a tudo o que dizia. A bela passagem:

Se a máscara da noite não cobrisse

O meu rosto, verias como as faces

Me ardem com o rubor do que eu te disse...

foi declamada com a lastimosa precisão duma colegial que aprendeu a recitar com algum professor de segunda ordem. Quando se debruçou sobre a varanda e chegou àqueles maravilhosos versos:

Dá-me prazer, é certo, o estar contigo.

É este encontro, porém, tão de repente

E tão precipitado, que eu te digo

Nenhum prazer me dá.

É um relâmpago

Que fende os ares, rasga a escuridão

E num segundo morre, bruscamente,

Sem dar tempo a dizer-se: «Relampeja!»

Boa noite, querido! Este botão

Será, quando nos virmos novamente,

Uma soberba flor, que do verão

O bafo acalentou...

proferiu as palavras como se nenhum sentido nelas lobrigasse.





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