Recuou alguns passos e os lábios pareciam tremer-lhe. Basil Hallward pôs-se em pé e começou a aplaudir. Imóvel, como que embebido num sonho, Dorian Gray contemplava-a da sua cadeira. Lord Henry observava-a com o binóculo, murmurando:
- Encantadora, encantadora!
A cena representava o salão da casa de Capuleto, e Romeu, vestido de peregrino, entrara com Mercutio e outros amigos. A orquestra rompeu a tocar e o baile começou.
Através da turba dos actores broncos e toscamente vestidos, Sibyl Vane movia-se como criatura dum mundo superior. Dançando, o seu corpo ondulava como uma planta ondula na água. As curvas da sua garganta eram as curvas dum lírio branco. As mãos pareciam de marfim.
Contudo, parecia estranhamente abstracta. Não exteriorizou júbilo algum, quando pousou os olhos em Romeu. As poucas palavras que teve de proferir:
Bom peregrino, escuta, nenhum mal
Fez, se a minha tocou a tua mão:
Tocando as mãos dos santos, os romeiros
Só mostram cortesia e devoção.
com o breve diálogo que se lhes segue, disse-as dum modo inteiramente artificial. A voz era, sem dúvida, duma doce delicadeza, mas absolutamente falsa, sob o ponto de vista da entoação. Faltava-lhe a cor adequada. Tirava ao verso toda a vida. Tornava irreal a paixão.