O Retrato de Dorian Gray - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 14 / 335

- Parece-me que sim, Henry. Mas, segundo a sua classificação, eu não devo passar dum mero conhecido.

- Meu querido Basil, você é muito mais que um conhecido.

- E muito menos que um amigo. Uma espécie de irmão, não é assim?

- Oh, irmãos! Não me importam os irmãos! O meu irmão mais velho não quer morrer e os meus irmãos mais novos parecem não fazer outra coisa.

- Henry! - exclamou Basil, carregando o sobrecenho.

- Meu caro amigo, não estou a falar inteiramente a sério. Mas não posso deixar de detestar os meus parentes. Suponho que isso provém do facto de ninguém gostar de ver nos outros os seus próprios defeitos. Admito plenamente a sanha da democracia inglesa contra o que chamam os vícios das classes superiores. As massas sentem que a embriaguez, a estupidez e a imoralidade deviam ser seu apanágio exclusivo, e que, se algum de nós um dia anda com um grão na asa, invadiu os seus domínios.

- Não concordo com uma só palavra do que você disse, e, o que é mais, Henry, tenho a certeza de que você também não.

Lord Henry cofiou a barba castanha, aparada em ponta, e pôs-se a bater com a bengala de ébano na biqueira da bota.





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