O Retrato de Dorian Gray - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 184 / 335

Cabelo de oiro, olhos azuis, lábios róseos - tudo isso lá estava. Só a expressão é que mudara. Era horrível na sua crueldade. Comparados com o que no retrato via de censura ou repulsa, que fúteis haviam sido os remoques com que Basil exprobara o seu procedimento para com Sibyl Vane! que fúteis, que insignificantes! Era a sua própria alma que da tela o fitava e o chamava a prestar contas. Velou-lhe o rosto uma turbação de dor e atirou a rica mortalha para cima do quadro. Neste momento, ouviu uma pancada na porta. Passou imediatamente para o outro lado do biombo, precisamente na ocasião em que entrava o criado.

- Já aqui estão os homens, senhor.

Sentiu que, primeiro que tudo, precisava de se ver livre do criado. Nunca lhe deveria permitir saber para onde ia o retrato. Havia nele uma certa manha, tinha os olhos pensativos, ardilosos. Sentando-se à escrivaninha, rabiscou um bilhete para Lord Henry, pedindo-lhe que lhe enviasse alguma coisa para ler e lembrando-lhe que se deviam encontrar às oito e um quarto.

- Espere a resposta - disse, entregando o bilhete ao criado - e mande entrar os homens para aqui.

Passados dois ou três minutos, bateram de novo à porta. Era o próprio Sr. Hubbard, o célebre fabricante de molduras da Rua South Audley, acompanhado dum jovem ajudante de aspecto rude.





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