O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 196 / 335

Pois a maravilhosa beleza que tanto fascinara Basil Hallward e muitos outros mais parecia nunca o abandonar. Mesmo aqueles que contra ele tinham ouvido as coisas piores (e de vez em quando corriam por Londres e serviam de pábulo às conversas dos clubes estranhas atoardas sobre a sua maneira de viver), quando o viam, nada podiam acreditar em seu detrimento. Tinha sempre a aparência duma pessoa que o mundo jamais poluíra. Os homens que falavam grosseiramente uns com os outros calavam-se, mal Dorian assomava à porta da sala. Havia na pureza do seu rosto alguma coisa que os afrontava como uma exprobação. Só a sua presença parecia neles evocar a recordação da inocência por eles maculada. A si mesmos perguntavam, espantados, como é que um jovem tão encantador e tão gracioso se não havia deixado envilecer por uma época que era simultaneamente sórdida e sensual.

Muitas vezes, ao regressar duma dessas misteriosas e dilatadas ausências que davam azo a estranhas conjecturas entre os que eram seus amigos ou que julgavam sê-lo, subia furtivamente ao quarto recôndito, abria a porta com a chave que nunca o largava e quedava-se, com um espelho, em frente do retrato que dele pintara Basil Hallward, contemplando ora a cara pintada na tela, já envelhecida e má, ora o belo rosto, radiante de juventude, que lhe sorria no cristal polido.





Os capítulos deste livro