O Retrato de Dorian Gray - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 298 / 335

- Como pode dizer isso? O romance vive pela repetição, e a repetição converte um apetite numa arte. Além disso, cada vez que a gente ama é a única vez que jamais amou. A diferença de objecto não fragmenta a paixão: apenas a intensifica. Podemos ter na vida apenas uma grande experiência, e o segredo da vida é reproduzir essa experiência o maior número possível de vezes.

- Mesmo quando ela nos tenha ferido, Henry? - perguntou a duquesa, após um momento de silêncio.

- Especialmente quando ela nos tenha ferido - respondeu Lord Henry.

A duquesa voltou-se e fitou Dorian Gray com uma expressão de curiosidade nos olhos.

- Que diz a isto, Sr. Gray? - inquiriu ela.

Dorian hesitou um momento. Depois atirou para trás a cabeça e riu-se.

- Estou sempre de acordo com o Henry, duquesa.

- Mesmo quando ele não tem razão?

- O Henry tem sempre razão, duquesa.

- E sente-se feliz com a filosofia dele?

- Nunca procurei a felicidade. Quem é que quer a felicidade? O que eu tenho procurado é o prazer.

- E tem-no encontrado, Sr. Gray?

- Muitas vezes. Demais, até.

A duquesa suspirou.

- Pois eu procuro a paz - disse - e, se me não vou vestir, não a encontrarei esta noite.

- Permita-me que lhe ofereça umas orquídeas, duquesa - exclamou Dorian, levantando-se e dirigindo-se para o fundo da estufa.





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