O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 314 / 335

- Posso dizer-lhe, Henry. É uma história que a ninguém mais poderia contar. Poupei uma mulher. Parece vaidade, mas compreende o que eu quero dizer. Era formosíssima e parecia-se maravilhosamente com a Sibyl Vane. Creio que foi isso o que primeiro me atraiu para ela. Lembra-se da Sibyl, não é verdade? Parece que já foi há tanto tempo! Bem, a Hetty não era da nossa classe, é claro. Era simplesmente uma rapariga da aldeia. Mas eu amava-a deveras. Tenho a certeza absoluta de que a amava. Durante todo este admirável mês de Maio que temos tido, ia vê-la duas ou três vezes por semana. Ontem encontrámo-nos num pequeno pomar. As flores de macieira estavam constantemente a cair-lhe no cabelo e ela ria-se. Estava combinado partirmos ao amanhecer. De súbito resolvi deixá-la tão pura como a havia encontrado.

- Talvez a novidade da emoção, Dorian, lhe fizesse sentir um autêntico prazer - atalhou Lord Henry. - Mas eu posso acabar por si o seu idílio. Deu-lhe bons conselhos e despedaçou-lhe o coração. Eis aí o início da sua transformação.

- Henry, você é horrível! Não deve dizer essas coisas terríveis. Eu não despedacei o coração da Hetty. Chorou, é claro. Mas nenhum mal lhe sucedeu. Pode viver, como Perdita no seu jardim de hortelã e malmequeres.





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