O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 316 / 335

- Discute-se o desaparecimento do pobre Basil.

- Pensava que já se tivessem cansado disso - observou Dorian, deitando vinho no copo e franzindo levemente a testa.

- Meu caro, há somente seis semanas que se fala disso, e os ingleses não resistem ao esforço mental de terem mais dum assunto de três em três meses. Ultimamente, porém, têm andado com muita sorte. Tiveram o meu divórcio e o suicídio do Alan Campbell. Agora têm o misterioso desaparecimento dum artista. A polícia de Londres insiste em que o homem do sobretudo cinzento que, em nove de Novembro, saiu de Paris no comboio da meia-noite, era o pobre Basil, e a polícia francesa declara que ele não chegou a Paris. Daqui a quinze dias são capazes de nos vir dizer que o viram em S. Francisco. É uma coisa singular, mas toda a gente que desaparece é vista em S. Francisco. Deve ser uma cidade deliciosa e possuir todos os atractivos do outro mundo.

- Que pensa que aconteceu ao Basil? - perguntou Dorian, erguendo contra a luz o seu copo de Borgonha e admirando-se da serenidade com que discutia o assunto.

- Não penso coisa alguma. Se o Basil quer esconder-se, não tenho nada com isso. Se morreu, não quero pensar nele. A morte é a única coisa que me aterra. Odeio-a.





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