O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 317 / 335

- Porquê?

- Porque, hoje em dia, a gente pode sobreviver a tudo, menos a isso. A morte e a vulgaridade são os dois únicos factos do século XIX que se não podem explicar. Vamos tomar o café na sala de música, Dorian. Tem de me tocar Chopin. O homem com quem minha mulher fugiu tocava Chopin divinamente. Pobre Victoria! Eu gostava tanto dela! A casa está tão só!... Mas a gente até a perda dos piores hábitos lamenta. Talvez até sejam esses os que mais pena nos deixam, fazem parte integrante da nossa personalidade.

Dorian nada disse, mas levantou-se da mesa e, passando para a sala contígua, sentou-se ao piano e pôs-se a passear os dedos, como que ao acaso, pelo marfim alvo e negro das teclas. Quando trouxeram o café, parou e, erguendo os olhos para Lord Henry, disse:

- Henry, ocorreu-lhe alguma vez a ideia de que o Basil tenha sido assassinado?

Lord Henry abriu a boca num grande espanto.

- O Basil era muito popular e usava sempre um relógio Waterbury, Porque é que o haviam de assassinar? Não era suficientemente inteligente para ter inimigos. Tinha, evidentemente, um génio admirável para a pintura. Mas um homem pode pintar como Velasquez e, todavia, ser obtuso ao máximo. O Basil não era, na verdade, nada inteligente.





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