Só uma vez me interessou: foi quando, há anos, me disse que tinha por você uma adoração doida e que você era o motivo dominante da sua arte.
- Eu gostava muito do Basil - disse Dorian, com uma nota de tristeza na voz. - Mas não dizem por aí que ele foi assassinado?
- Oh! há jornais que o dizem. Não me parece, porém, de modo algum provável. Sei que há em Paris lugares terríveis, mas o Basil não era homem para frequentar esses antros. Não tinha curiosidade. Era esse o seu defeito capital.
- Que diria você, Henry, se eu lhe dissesse que fui eu quem matou o Basil? - perguntou Dorian, espiando o efeito que produziam as suas inesperadas palavras.
- Dir-lhe-ia, meu caro, que estava assumindo uma atitude que de maneira nenhuma se coaduna com a sua maneira de ser. Todo o crime é vulgar, precisamente como toda a vulgaridade é um crime. Não está na sua índole, Dorian, cometer um assassínio. Sinto muito se, dizendo isto, firo a sua vaidade, mas asseguro-lhe que é verdade o que lhe digo. O crime pertence exclusivamente às classes inferiores. Não as censuro de modo algum. Imagino que o crime é para elas o que para nós é a arte: simplesmente um método de obter sensações extraordinárias.
- Um método de obter sensações?