O Retrato de Dorian Gray - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 7 / 335

Vivem como todos nós devíamos viver, sossegados, indiferentes, sem inquietações. Nem causam a ruína dos outros, nem a recebem das mãos alheias. A sua situação e a sua riqueza, Henry; o meu cérebro, seja ele o que for, a minha arte, valha ela o que valer; a beleza de Dorian Gray... havemos todos de sofrer por aquilo que os deuses nos deram, e sofrer terrivelmente.

- Dorian Gray? É assim que ele se chama? - perguntou Lord Henry, aproximando-se de Basil. - É. Não lho queria dizer.

- Mas porquê?

- Oh, não posso explicar. Eu nunca revelo os nomes das pessoas de quem gosto imenso. É como que entregar uma parte delas. Amo o segredo. Parece-me ser a única coisa que nos pode tornar a vida moderna misteriosa ou maravilhosa. Só com o ocultá-la tornamos deliciosa a coisa mais banal. Quando me ausento da cidade, nunca digo para onde vou. Se o dissesse, lá se me ia todo o prazer. Será uma tolice, será; mas é um hábito que me parece introduzir na nossa vida o seu quê de romance. Acha, decerto, disparatado o que lhe estou dizendo.

- Nada disso - retorquiu Lord Henry - nada disso, meu caro Basil. Parece-me que você se esquece de que sou casado, e o único encanto do casamento é o tornar absolutamente necessária uma vida de engano mútuo.





Os capítulos deste livro