O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 80 / 335

- Sim, mas ele parecia pensar que eles excediam em muito os seus recursos - respondeu, rindo, Dorian. - Neste momento, porém, andavam a apagar as luzes do teatro, e tive de sair. Ele queria que eu provasse uns charutos que me recomendava com todo o empenho. Recusei. Na noite seguinte, claro está, voltei ao sítio. Quando ele me viu, fez uma grande mesura e assegurou-me que eu era um generoso protector das artes. Era um bruto inofensivo, apesar da sua extraordinária paixão por Shakespeare. Disse-me uma vez, com certa ufania, que as suas cinco falências eram totalmente devidas ao «Bardo», como ele insistia em o denominar. Parecia considerar esse facto como uma distinção.

- Era uma distinção, meu caro Dorian, uma grande distinção. É a prosa da vida que faz falir a maior parte da gente. Arruinar-se uma pessoa por causa da poesia é já uma honra. Mas quando falou você pela primeira vez com Sibyl Vane?

- Na terceira noite. Fizera ela de Rosalinda. Não pude deixar de ir ao palco. Tinha-lhe atirado flores e ela olhara para mim; pelo menos assim me pareceu. O velho judeu insistia. Parecia apostado em levar-me lá dentro, e eu anuí. Era curioso eu não querer conhecê-la, não era?

- Não, não me parece.

- Porquê, meu caro Henry?





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