O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 79 / 335

- Henry! Sibyl Vane é sagrada!

- Só nas coisas sagradas é que vale a pena tocar, Dorian - disse Henry, com um estranho toque de comoção na voz. - Mas por que se há-de amofinar? Creio que ela lhe há-de vir a pertencer um dia. Quando a gente está enamorada, começa sempre por se enganar a si e acaba sempre por enganar os outros. É a isso que o mundo chama romance. Conhece-a, ao menos?

- É claro que a conheço. Na primeira noite em que fui ao teatro, o monstro do judeu veio à minha frisa, mal terminou o espectáculo, e ofereceu-se para me acompanhar aos bastidores e apresentar-me a ela. Indignei-me com ele, e disse-lhe que a Julieta havia centenares de anos que estava morta e que o seu cadáver estava sepultado num jazigo de mármore em Verona. Ficou a tal ponto estarrecido, que me pareceu que ficou com a impressão de que eu havia bebido champanhe em demasia.

- Não me surpreende.

- Então perguntou-me se eu escrevia para os jornais. Respondi-lhe que nem sequer os lia. Pareceu-me terrivelmente desapontado com a minha resposta, e fez-me a confidência de que todos os críticos dramáticos se haviam conluiado contra ele e de que não havia um só que se não deixasse comprar.

- Não me admiraria nada, se assim fosse. Mas, por outro lado, a avaliar pelas aparências, a maior parte deles não devem ficar muito caros.





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