O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 86 / 335
Apenas ficou só, Lord Henry cerrou as pesadas pálpebras e começou a pensar. Certamente poucas pessoas o haviam até aí interessado tanto como Dorian Gray, e, todavia, o facto de o jovem adorar alguém mais não lhe causava o mais leve vislumbre de ressentimento ou de ciúme. Estimava-o até. Isso tornava o rapaz um estudo mais interessante. Apaixonaram-no sempre os métodos das ciências naturais, mas o objectivo ordinário dessas ciências afigurara-se-lhe trivial e sem importância. E então começara por se vivissecar a si próprio, como terminara por vivissecar os outros. Parecia-lhe que a vida humana era a única coisa que valia a pena investigar. Nada havia que se lhe pudesse comparar. Verdade era que, quando a gente analisava a vida no seu curioso cadinho de dor e prazer, não podia afivelar no rosto uma máscara de vidro, nem evitar que as emanações sulfurosas perturbassem o cérebro ou alucinassem a imaginação com fantasias monstruosas e sonhos horripilantes. Havia venenos tão subtis que, para conhecer as suas propriedades, era mister absorvê-los. Havia doenças tão estranhas que quem pretendesse estudar-lhes a natureza tinha necessariamente de contraí-las. E, todavia, que esplêndida recompensa se fruía! Em que maravilha se tornava o mundo!