O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 85 / 335

Lord . Henry sorriu.

- Todos gostam de dar aquilo de que mais necessitam. É o que eu chamo o cúmulo da generosidade.

- Oh, o Basil é o melhor dos homens, mas parece-me um bocadinho filistino. Descobri isso desde que o conheci a si, Henry.

- O Basil, meu caro, põe na obra tudo o que nele há de encantador. A consequência é que nada lhe resta para a vida, a não serem os seus preconceitos, os seus princípios e o seu senso comum. Os únicos artistas que tenho conhecido, se são pessoalmente deliciosos, são maus artistas. Os bons artistas existem simplesmente no que fazem, e, por conseguinte, no que são nenhum interesse despertam. Um grande poeta, um poeta realmente grande, é a menos poética de todas as criaturas. Mas os poetas inferiores são absolutamente encantadores. Quanto piores são as suas rimas, mais pitorescos eles parecem. Só o facto de haver publicado um livro de sonetos de segunda classe torna um homem deveras irresistível. Vive a poesia que não pode escrever. Os outros escrevem a poesia que não ousam realizar.

- Será realmente assim, Henry? - perguntou Dorian Gray, aspergindo o lenço dum perfume encerrado num frasco' de rolha de oiro que estava na mesa. Deve ser, visto que você o diz. E agora vou-me embora. A Imogénia está à minha espera. Não se esqueça de aparecer amanhã. Adeus.





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