Tinha a consciência - e esta ideia iluminava-lhe os olhos castanhos dum fulgor de prazer - de que era devido a certas palavras suas, palavras musicais musicalmente proferidas, que a alma de Dorian Gray se voltara para esta rapariga e se prostrara em adoração perante ela. Em certo modo o moço era criação sua. O seu desabrochar prematuro a ele era devido. Era alguma coisa. A gente ordinária esperava que a vida lhe desvendasse os seus segredos, mas aos raros, aos eleitos, eram os mistérios da vida revelados antes de arrancado o véu. Às vezes era o efeito da arte, e especialmente da literatura, que versava imediatamente as paixões e a inteligência. Mas, de vez em quando, surgia uma personalidade complexa a assumir o lugar da arte; era, realmente, uma verdadeira obra de arte, por isso que a vida tem as suas complicadas obras-primas, como as têm a poesia, a escultura ou a pintura.
Sim, o jovem desabrochava prematuramente para a vida.