O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 87 / 335

Notar a curiosa e dura lógica da paixão e a vida emotiva e colorida da inteligência - observar onde se encontravam e onde se separavam, em que ponto vibravam em uníssono e em que ponto divergiam - que prazer nisso havia! Que importava a que preço? Nunca se poderia achar excessivo o que por uma sensação se pagasse.

Tinha a consciência - e esta ideia iluminava-lhe os olhos castanhos dum fulgor de prazer - de que era devido a certas palavras suas, palavras musicais musicalmente proferidas, que a alma de Dorian Gray se voltara para esta rapariga e se prostrara em adoração perante ela. Em certo modo o moço era criação sua. O seu desabrochar prematuro a ele era devido. Era alguma coisa. A gente ordinária esperava que a vida lhe desvendasse os seus segredos, mas aos raros, aos eleitos, eram os mistérios da vida revelados antes de arrancado o véu. Às vezes era o efeito da arte, e especialmente da literatura, que versava imediatamente as paixões e a inteligência. Mas, de vez em quando, surgia uma personalidade complexa a assumir o lugar da arte; era, realmente, uma verdadeira obra de arte, por isso que a vida tem as suas complicadas obras-primas, como as têm a poesia, a escultura ou a pintura.

Sim, o jovem desabrochava prematuramente para a vida.





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