O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 88 / 335

Andava já na faixa da colheita e ainda estava em plena primavera. Pulsavam nele o estro e a paixão da mocidade, mas a sua consciência ia pouco a pouco despertando. Era um prazer observá-lo. Com o seu rosto belo e a sua bela alma era uma criatura admirável. Não importava saber como tudo isso viria a terminar. Era como uma dessas graciosas figurinhas de comédia cujas alegrias nos deixam absolutamente impassíveis, mas cujas mágoas ferem o nosso sentimento de beleza e cujas feridas são como rosas vermelhas.

Corpo e alma, alma e corpo - que mistério! Havia animalismo na alma, e o corpo tinha os seus momentos de espiritualismo. Os sentidos podiam requintar-se e a inteligência podia degradar-se. Quem poderia dizer onde findava o impulso carnal ou começava o impulso psíquico? Que tacanhas eram as definições arbitrárias dos psicólogos ordinários! E, todavia, que difícil era optar entre as afirmações das diversas escolas! Era a alma uma sombra recluída na casa do pecado? Ou existia a alma realmente no corpo, consoante pensava Giordano Bruno? Era mistério a separação do espírito da matéria, e mistério era também a união do espírito com a matéria.

Começou a perguntar a si mesmo se nós poderíamos um dia tornar a psicologia uma ciência tão absoluta, que nos pudesse revelar as mais recônditas molas da vida.





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