»Assim, quando chegaram, tiveram de se apresentar imediatamente a Láquesis. E primeiramente um hierofante pô-los por ordem; depois, tirando dos joelhos de Láquesis destinos e modelos de vida, subiu a um estrado elevado e falou assim:
»«Declaração da virgem Láquesis, filha da Necessidade. Almas efémeras, ides começar uma nova carreira e renascer para a condição mortal. Não é um génio que vos tirará à sorte, vós mesmos escolhereis o vosso génio que o primeiro designado pela sorte seja o primeiro a escolher a vida a que ficará ligado pela necessidade. A virtude não tem senhor: cada um de vós consoante a venera ou a desdenha, terá mais ou menos. A responsabilidade é daquele que escolhe. Deus não é responsável.»
»A estas palavras, lançou os destinos e cada um apanhou o que caíra perto dele, excepto Er, porque não lho permitiram. Cada um ficou então a saber qual a posição que lhe tinha cabido por sorte. Depois, o hierofante estendeu diante deles modelos de vida em número muito superior ao das almas presentes. Havia-as de todas as espécies: todas as vidas dos animais e todas as vidas humanas; viam-se tiranias, umas que duravam até à morre outras interrompidas a meio, que acabavam na pobreza, no exílio e na mendicidade. Havia também vidas de homens famosos, quer pelo seu aspecto físico, beleza, força ou aptidão para a luta, quer pela sua nobreza e grandes qualidades dos seus antepassados; havia-as também obscuras em todos os aspectos e o mesmo acontecia para as mulheres.