A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 33 / 290

— Que te importa — replicou — que seja ou não a minha opinião? Limita-te a refutar-me.

— Com efeito, não me importa — confessei. — Mas vê se respondes a mais isto: parece-te que o homem justo procura prevalecer de algum modo sobre o homem justo?

— De modo nenhum — disse ele —, pois que não seria delicado e simples como é.

— Como! Nem mesmo numa acção justa?

— Nem mesmo nisso.

— Mas pretenderia prevalecer sobre o homem injusto e pensaria ou não fazê-lo justamente?

— Pensá-lo-ia — respondeu — e pretendê-lo-ia, mas não o poderia.

— Não foi isso que perguntei: quero saber se o justo não teria nem a pretensão nem o desejo de prevalecer sobre o justo, mas somente sobre o injusto.

— Assim é — disse ele.

— E o injusto pretenderia prevalecer sobre o justo e a acção justa?

— Como não havia de querer, ele, que pretende prevalecer sobre todos?

— Portanto, prevalecerá sobre o homem e a acção injusta e lutará para prevalecer sobre todos?

— É isso.

— Resumindo: o justo não prevalece sobre o seu semelhante, mas sobre o seu contrário; o injusto prevalece sobre o seu semelhante e o seu contrário

— Excelentemente expresso — disse ele.





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