- É - respondeu ele.
- Por conseguinte, devemos aumentar a cidade, dado que aquela que considerámos sã já não é suficiente, e enchê-la de uma multidão de pessoas que não estão nas cidades por necessidade, como os caçadores de toda a espécie e os imitadores, a turba dos que imitam as formas e as cores e a turba dos que cultivam a música: os poetas e o seu cortejo de rapsodos, actores, dançarinos, empresários de teatro, os fabricantes de artigos de toda a espécie e especialmente de adornos femininos. Teremos também de aumentar o número dos servidores; ou achas que não teremos necessidade de pedagogos, amas, governantas, criadas de quarto, cabeleireiros e também cozinheiros e mestres cozinheiros? E precisaremos também de porqueiros! Nada disto se encontrava na nossa primeira cidade, porque não havia necessidade, mas nesta será indispensável. E devemos acrescentar gado de toda a espécie, para aqueles que o desejarem comer, não te parece?
- Porque não?
- Mas, seguindo esta maneira de viver, os médicos serão muito mais necessários do que antes.
- Muito mais.
- E o país, que até então bastava para alimentar os seus habitantes, tornar-se-á demasiado pequeno e insuficiente. Que dizes a isto?
- Que é verdade - respondeu.
- Então seremos forçados a invadir o território dos nossos vizinhos, se quisermos ter pastagens e lavouras suficientes? E eles não farão o mesmo em relação a nós, se, ultrapassando os limites do necessário, se entregarem, como nós, ao insaciável desejo de possuir?
- É muito provável, Sócrates - disse ele.
- Quer dizer que iremos para a guerra, Gláucon? Ou que acontecerá?
- Iremos para a guerra.