O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 77 / 158

Quase sempre há nevoeiro em Novastosná, excepto quando o Sol aparece e dá a tudo o aspecto irisado de pérola durante uns instantes.

Cótique, o bebé de Matcá, nasceu no meio daquela confusão, e era todo cabeça e ombros, com olhos pálidos de azul de água, como têm de ser as focazinhas, mas a pele tinha qualquer coisa que obrigou a mãe a observá-lo atentamente.

- Rompão Marinho - disse ela por fim -, o nosso filho vai ser branco!

- Ostras vazias e algas secas! - roncou Rompão Marinho.

- Nunca no mundo houve tal coisa como uceá -, mas vai haver agora. - E soltou aquele canto grave e monótono que todas as focas mães cantam aos filhos:


Não nadarás sem que tenhas seis semanas
Senão o calcanhar não te sustém a cabeça;
Rajadas de Verão, orcas assassinas
Só fazem mal às focas meninas.


Fazem mal às focas, ó linda ratinha
São malévolas até mais não;
Mas chafurda, energia retoma,
E mal te podes enganar
Ó Filha do Alto Mar!

O miúdo, naturalmente, não entendia as palavras a princípio.

Chapinhava, trepava à beira da mãe e aprendeu a desviar-se do caminho, quando o pai se batia com outra foca, e os dois rebolavam rugindo de um lado para o outro sobre os rochedos escorregadios. Matcá costumava meter-se ao mar a arranjar que comer, e o miúdo era alimentado apenas de dois em dois dias; mas comia então quanto podia e com grande proveito.

A primeira coisa que fez foi arrastar-se para o interior, onde encontrou dezenas de milhares de bebés da sua idade, que brincavam uns com os outros como cachorrinhos, dormiam nas areias limpas e voltavam a brincar. Os adultos, nos viveiros, não reparavam neles e os holuchiqui mantinham-se nos seus terrenos, de modo que os bebés se divertiam à grande.





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