Contos de Mistério - Cap. 9: COMO TUDO ACONTECEU (How it happened) Pág. 164 / 167

Tudo correu muito bem até ao fundo da encosta de Claystall. É uma das piores encostas da Inglaterra: tem dois quilómetros e meio de extensão, com um declive de dezassete por cento em certos sítios e três curvas curtas. O gradeamento do meu parque fica situado mesmo do outro lado desta encosta; exactamente na sua base, dando para a grande estrada de Londres.

Estávamos pouco mais ou menos chegados ao cimo da encosta quando os problemas começaram, Tinha rodado a pleno gás, e queria descer com o escape livre; mas a embraiagem avariou-se e tive de voltar à terceira velocidade. A viatura ia muito depressa; procurei accionar os dois travões, mas falharam um após outro. Quando debaixo do meu pé o pedal estalou com um golpe seco, não me inquietei demasiado; mas quando puxei com todo o vigor o travão de mão e a alavanca subiu até acima sem engatar, senti suores frios. Descíamos a encosta a toda a velocidade. Os faróis iluminavam bem. Passei impecavelmente a primeira viragem. Na segunda rasei o fosso mas safei-me. A segunda estava separada da terceira por mil e quinhentos metros em linha recta; depois da última viragem faltar-me ia transpor o gradeamento do parque. Se pudesse lançar-me neste porto, tudo iria bem, porque havia uma subida íngreme desde o gradeamento até à minha casa; a viatura pararia certamente por si mesma.

Perkins tinha-se comportado magnificamente. Gostava que este pormenor fosse conhecido. Conservava-se perfeitamente calmo, e preparado para tudo. Ao princípio eu encarara a hipótese de apanhar o talude, e ele adivinhara o meu projecto.

- Eu não o faria, senhor - dissera-me. - A esta velocidade capotaríamos.

Tinha mil vezes razão. Desligou o contacto, seguimos «em roda livre», mas ainda a uma velocidade aterradora.





Os capítulos deste livro