Tinha conhecido Dacre em Inglaterra, pois havia começado as minhas pesquisas na sala assíria do Museu Britânico na época em que ele se esforçava por dar um sentido místico e esotérico às tábuas de Babilónia, e esta comunidade de interesse tinha-nos aproximado. Observações ocasionais haviam originado discussões quotidianas e, em suma, acabámos por criar laços de amizade. Eu tinha-lhe prometido que iria visitá-lo na minha próxima passagem por Paris. Quando pude cumprir o prometido, estava instalado numa pensão em Fontainebleau; os comboios nocturnos não eram práticos e por isso ele pediu-me que passasse a noite em sua casa.
- Apenas tenho esta cama para lhe oferecer - disse-me, indicando um largo divã na grande sala. - Espero que, apesar disso, consiga dormir confortavelmente.
Singular quarto de dormir, com as paredes todas cobertas de volumes castanhos! Mas para o leitor que eu era, este cenário era muito agradável e adorava o cheiro subtil que um velho livro emite. Respondi-lhe que não podia desejar quarto mais aprazível nem ambiente mais simpático.
- Se esta instalação é tão pouco prática como convencional, pelo menos custou-me caro - disse-me ele enquanto deitava um olhar circular às prateleiras.