O Sinal dos Quatro - Cap. 4: 4 - A História do Homem Calvo Pág. 31 / 133

»Neste instante a sua expressão sofreu uma horrível transformação; o olhar tornou-se selvagem, o queixo descaiu e ele gritou com uma voz que nunca esquecerei: «Mandem-no embora! Por amor de Deus, mandem-no embora!» Olhámos ambos para a janela atrás de nós onde o seu olhar se fixara. Um rosto no meio da escuridão observava-nos através da janela. Víamos o nariz esbranquiçado devido à pressão sobre a vidraça. Era um rosto com barba abundante, olhos cruéis e uma expressão extremamente malévola. Eu e o meu irmão corremos para a janela, mas o homem desaparecera. Quando voltámos para junto do meu pai a cabeça tombara-lhe e o pulso parara de bater.

»Nessa noite fizemos buscas no jardim: mas não encontrámos sinal algum do intruso, para além de uma única pegada que era visível sobre o canteiro de flores por baixo da janela. Aquela única marca poderia levar-nos a pensar que o rosto selvagem e cruel era fruto da nossa imaginação. Cedo, porém, tivemos uma outra e mais evidente prova da existência de actividades secretas à nossa volta. A janela do quarto do meu pai foi encontrada aberta pela manhã, os seus armários e arcas tinham sido revolvidos, e sobre o cofre estava um bocado de papel com as palavras: O sinal dos quatro. O que significava essa frase ou quem poderia ser o nosso misterioso visitante nunca o descobrimos. Tanto quanto sabemos, nada foi roubado, embora estivesse tudo remexido. O meu irmão e eu naturalmente que associámos este estranho incidente com o medo que perseguiu o meu pai durante toda a sua vida, mas o que aconteceu continua a ser um mistério para nós.

O homenzinho reclinou-se para reacender o narguilé e, pensativamente, tirou cachimbadas durante alguns momentos. Todos nós estávamos absortos, escutando a sua extraordinária narrativa.





Os capítulos deste livro