Eneida - Cap. 9: Os troianos são Cercados Pág. 157 / 235

OS TROIANOS SÃO CERCADOS

Enquanto isso, Juno, filha de Saturno, enviava pelos ares a sua mensageira Íris ao encontro de Turno. A deusa irisada encontrou-o sentado no bosque de seu avô Pilumno, num vale sagrado. Disse-lhe então:

— Turno, o correr do tempo apresenta-se agora como uma excelente oportunidade que não pediste e com a qual nem mesmo sonhaste. Eneias, tendo deixado os seus companheiros, as suas armas e os navios no acampamento, foi ao reino de Evandro. De lá seguiu para outras cidades vizinhas onde arma uma força de camponeses lídios. Que esperas? Reúne os teus cavalos e carros e assalta o acampamento de surpresa.

Assim falando, abriu as asas e elevou-se nos ares, traçando um grande arco multicolor nas nuvens. O príncipe, reconhecendo-a, seguiu-a alçando os braços na sua direcção e exclamando:

— Íris, jóia do céu, quem aqui te enviou para me favorecer? Porque, de súbito parece o tempo tão claro? Vejo o céu entreabrir-se e estrelas fulgurando no firmamento. Táo grandes são esses presságios que não ouso desobedecer-te, ó tu, que me envias à guerra.

Tomou então água do rio na concha das mãos e encheu os ares com votos e orações aos deuses.

Pouco depois, já todo o exército do Lácio marchava em campo aberto. Eram milhares de soldados, num oceano de penachos coloridos e armaduras douradas. Comandando a vanguarda, seguia Messapo, enquanto os filhos de Tirro seguiam à retaguarda. No seu lugar de chefe, no meio da tropa, ostentava-se altivo Turno, empunhando a espada desembainhada e a todos excedendo em estatura, como o Ganges que surge imponente com seus sete tributários num curso silencioso, ou como o Nilo, de águas fecundas, quando se retira das planícies.





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