O Bobo - Cap. 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais Pág. 139 / 191

Um vislumbre de esperança surgiu e desapareceu no rosto demudado de Dulce.

– Meu Deus! – disse ela; e depois, deixando cair a fronte sobre o peito, suspirou: – Ai, é um pensamento vão!

– És tu que podes restituí-lo à liberdade – prosseguiu Fernando Peres. – Da tua boca pende a sua vida ou a sua morte. Serei misericordioso.

– Que pretendeis que eu diga? – exclamou a donzela numa espécie de exaltação ou antes de frenesi, e alevantando-se com a energia do peregrino, que se arrasta moribundo de sede por desvios pedregosos e áridos, ao ouvir o súbito murmúrio de uma fonte. – Jurar que vos entregarei minhas terras? que me sepultarei num claustro? que nunca mais o verei? Juro-o mil vezes! Salvai-o!

– Não é a pobreza de deserdada e o cativeiro perpétuo de monja que eu te peço em preço da vida de Egas... Sou mais generoso. Quero que vivas no meio dos deleites do mundo, na grandeza de nobre dama; quero que sejas amada por homem digno de ti...

– Matai-me, matai-me! – exclamou a donzela, caindo de novo aos pés do conde.

A imagem de Garcia Bermudes alumiara com a luz medonha do raio as trevas do seu martírio.

O conde continuou:

– Ontem prometi ante a rainha que tu serias mulher de Garcia. Esta promessa há-de cumprir-se, ou tu serás a assassina daquele por quem trocas o alferes-mor de Portugal, o mais valente e gentil cavaleiro de toda a Espanha.

– Mas eu morrerei primeiro, senhor conde! Tende dó de uma desventurada.





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