O Bobo - Cap. 15: XV - Conclusão Pág. 171 / 191

E no fim delas um monge tomou da credência uma cogula, enquanto o abade arrancava ao cavaleiro a sobreveste branca franjada de ouro, enodoada ainda do sangue dele e do sangue de Garcia Bermudes. A negra cogula a substituiu então caindo como um sudário sobre a cabeça do noviço. O som do órgão havia cessado.

Mas um grito agudo e rápido e um pequeno baque no pavimento da igreja soaram como duas notas mais tardias daquelas tristíssimas toadas. O anjo-da-guarda de Dulce voava para o céu através das solidões do espaço: uma alma o acompanhava.

No outro dia sepultavam-se em duas sepulturas diversas na galilé do Mosteiro de D. Muma o alferes-mor da rainha D. Teresa e sua nobre esposa a herdeira dos Bravais, que expirara de dor, segundo se dizia, ao pé do féretro de seu ilustre e valente marido, morto na batalha do campo de S. Mamede.

Gonçalo Mendes da Maia, tenente por Afonso Henriques do Castelo de Guimarães, e o abade de S. Salvador assim o haviam ordenado, separando na morte aqueles que a bênção do sacerdote tinha unido para sempre na vida.

Foi um pequeno escândalo em que as beatas do burgo falaram muito, com variados comentários.

Um noviço do mosteiro, que ninguém conhecia, apareceu morto ao romper da alva do terceiro dia sobre a lousa da sepultura de Dulce. Na face da pedra tinha escrito duas compridas trovas, que um monge curioso copiou num pergaminho que guardou no cartulário do mosteiro, onde ainda no décimo sexto século se conservava. Quem as quiser ler procure-as na Miscelânea de Miguel Leitão de Andrade.

Foi caso em que todos cismaram.





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