Os três personagens que o conde de Trava vira encaminharem- se para a corredoura contígua aos muros do castelo, e cujos passos e conversação mandara observar pelo pajem, iam demasiado preocupados para haverem de reparar nos jogos e brincos de Tructesindo e dos seus companheiros; e tanto mais que na viela perpassavam também às vezes os ovençais, uchões e sergentes ocupados nos preparativos do banquete, tornando assim menos notável a pessoa do pajem, cujas feições, até, já não seria fácil divisar na estreita passagem, a certa distância, e à luz duvidosa do longo crepúsculo, que no Verão vem após o sol-posto, e que era a hora a que esta cena se passava.
Essa claridade do fim da tarde seria contudo ainda bastante forte para o Lidador e Fr. Hilarião conhecerem o mensageiro que os buscava, se não fora o grande capuz do zorame, onde tinha como sumido o rosto, do qual apenas eram bem visíveis dois olhos brilhantes e uma espessa barba loura. Quase ao mesmo tempo os dois haviam chegado ao pé do desconhecido, e lhe tinham perguntado de onde vinha e quem o mandava. A resposta do peão foi tirar um pequeno rolo de pergaminho, atado com fio negro, de uma bolsa de couro que trazia pendente do cinto, e pô-lo nas mãos de Gonçalo Mendes.
O Lidador recebeu a carta e perguntou de novo:
– Mas quem te mandou, peão?
Um cavaleiro português – respondeu o desconhecido – que encontrei mui malferido na albergaria dos hospitalários em Gaza. O triste e cativo quase que se morria.