O mancebo ficou por algum tempo pensativo e murmurou:
– Cumprir-se-á meu destino! – Depois voltando-se para o abade disse-lhe: – Ficai tranquilo, bom Fr. Hilarião, esta mesma noite sairei de Guimarães.
– E breve! – acudiu o Lidador. – O esforço não exclui a prudência. Se todavia alguém tentar embargar-te os passos, não te esqueças de que Gonçalo Mendes está aqui, e que tem consigo vinte escudeiros valentes.
Neste instante as trombetas tocavam pelos eirados do paço e pelos adarves do castelo, e ouviam-se romper da banda da sala de armas os sons ásperos e vibrantes das charamelas.
– É o sinal de que começa o banquete – notou o abade, a quem semelhantes sons eram suaves, ainda nas maiores angústias. – É necessário apresentarmo-nos a tempo, para não causarmos suspeitas.
Egas apertou a mão ao Lidador, abraçou o monge, e, puxando o capuz do zorame para diante, seguiu ao longo da viela, enquanto os dois retrocediam e se encaminhavam para a escada principal do palácio, com passos lentos e conversando em voz baixa. Antes de chegarem acima, viram passar por eles um pajem galgando os degraus quatro a quatro e rindo como um perdido.
– Estes rapazes são doidos! – disse o monge para o seu companheiro de modo que o pajem o ouvisse.
Este olhou para trás, fitou os olhos em Fr. Hilarião com gravidade cómica, e deu uma gargalhada, continuando a galgar a escadaria.
Era Tructesindo.