Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: Capítulo 4

Página 16

Da beleza e virtude é a cidadela A inocência primeiro — e depois ela.

Mas a autoridade responde-se com autoridade, e a texto com texto. E eu trago aqui na algibeira o meu Addison — um dos poucos livros que não largo nunca — e atiro com o filósofo inglês ao filósofo grego e fico triunfante: porque Addison não põe nada acima da modéstia; e Addison, apesar da sua casaca de peneiros, é muito maior filósofo do que foi Démades com a sua túnica e o seu pálio ateniense.

O erudito e amável leitor escapará desta vez a mais citações: compre um Spectator, que é livro sem que se não pode estar, e veja passim.

Eu gosto, bem se vê, de ir ao encontro das objecções que me podem fazer; lembro-as eu mesmo para que depois me não digam:

— «Ah, ah! vinha a ver se pegava!» — Não senhor, não é o meu género esse. Francamente, pois... eis aí o que poderão dizer: ...«Addison foi secretário de Estado, e então...» — Então o quê? Não concebem um secretário de Estado filósofo, um ministro poeta, escritor elegante, cheio de graça e de talento? Não, bem vejo que não: têm a ideia fixa de que um ministro de Estado há-de ser por força algum sensaborão, malcriado e petulante, ou um pedante impostor e papelão, ou um hipócrita, um gebo, um intrigante. Mas isto é nos países adiantados como o nosso, em que já é indiferente para a coisa pública, em que povo nem príncipe lhes não importa já, em que mãos se entregam, a que cabeças se confiam. Em Inglaterra não é assim, que não chegou ainda à nossa perfeição nem era assim no tempo de Addison. Fossem lá à rainha Ana1 que deixasse entrar no seu gabinete quatro calças de couro sem criação nem instrução, e não mais senão só porque este sabia jogar nos fundos, aquele tinha boas tretas para o canvassing de umas eleições o outro era figura importante no Freemason’s hall!

Já se vê que em nada disto há a mínima alusão ao feliz sistema que nos rege: estou falando de modéstia, e nós vivemos em Portugal. A modéstia, contudo, quando é excessiva e se aproxima do acanhamento, do que no mundo se chama falta de uso — pode ser num

<< Página Anterior

pág. 16 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro Viagens na minha terra
Páginas: 41
Página atual: 16

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 7
Capítulo 3 11
Capítulo 4 15
Capítulo 5 19
Capítulo 6 23
Capítulo 7 29
Capítulo 8 34
Capítulo 9 37