O Garimpeiro - Cap. 7: VII- O SACRIFÍCIO Pág. 61 / 147

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- A quê, meu pai?...

- A casar com o senhor Leonel.

- Ah! isso nunca!...

Estas palavras escaparam ao peito da moça com espontânea e rápida explosão. O Major lançou-lhe um olhar severo e exprobrador.

Lúcia reportou-se.

- Mas - continuou ela mudando de tom - que tem meu casamento com a sua quebra, meu pai?

- Muito, minha filha. Leonel, sabendo que eu me achava nesses transes apertados, ofereceu-me espontânea e generosamente seus serviços e, o que é mais ainda, sua bolsa. Mas se recusas dar-lhe a mão de esposa como poderei aceitá-los?

- Ah! meu pai, não me obrigue a semelhante sacrifício; por piedade! a miséria mil vezes!... mas já não sei o que penso, nem o que digo... meu pai, tenha piedade de sua filha.

- Ah! Lúcia, minha querida Lúcia!... pondera que não se trata somente de ti. Já não falo de mim, que estou velho, e que pouco me importa o modo por que passarei o resto de meus dias. Mas tua irmãzinha, tão linda, tão inocente, coitada! não terei a legar-lhe senão a miséria. Oh! e a miséria é tão triste para quem já viveu na abastança!

Tendo dito estas palavras o Major enxugou duas grossas lágrimas, que lhe rolavam pelas faces macilentas.

- Meu pai!... - exclamou Lúcia, pondo-se rapidamente em pé, e apertando convulsivamente as mãos uma na outra.

Depois deixou pender a fronte, abaixou os olhos e uma chuva de lágrimas, que lhe brotavam das pálpebras ardentes, circundavam-lhe as faces, e caíram no pavimento aos pés do velho. Este também levantou-se profundamente comovido, e, sustendo- a nos braços, já ia quase desistir de suas pretensões. Mas a bela e nobre alma de Lúcia já tinha aceitado o sacrifício.

- Tranquilize-se, meu pai- disse ela com tom firme e resoluto, enxugando a última lágrima que lhe brotava dos olhos; aceito o marido que me quer dar, já que assim é preciso para felicidade sua e de minha irmã.





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