O Garimpeiro - Cap. 10: X – A AFRONTA Pág. 80 / 147

Quero ver tudo por meus próprios olhos; quero assistir às exéquias de minha felicidade, que lá se estão celebrando com tanta pompa e regozijo. Depois... me imolarei sobre elas. Vamos! coragem! apresentemo-nos lá; pouca gente reparará na minha presença... ah! talvez nem ela!... que importa? vamos!

E saiu da ponte precipitadamente, encaminhou-se à casa, onde foi compor melhor o seu vestuário, e dirigiu-se resolutamente pelo caminho da casa do Major.

Não estranhem os leitores a sem-cerimónia com que Elias, sem motivo algum plausível, vai apresentar-se em casa do Major em uma noite de festim, sem a ele ter sido convidado. Nas povoações do sertão de Minas, antes que a malfadada política de aldeia tivesse penetrado por elas, degenerando ou estragando a singeleza dos costumes primitivos, as famílias, pela cordial intimidade que entre elas reinava, eram como grupos diversos de uma só família. As portas das salas de recepção nunca estavam fechadas. Nunca se soube o que é um criado, ou o cordão de uma campainha para anunciar uma visita, e muito menos um porteiro. Nos dias de regozijo e festa principalmente, as portas e janelas estavam francas para os passantes que quisessem ver ou tomar parte no regozijo, sem que ninguém lhes embargasse o passo, porque todos eram amigos e conhecidos íntimos.

Os leitores podem fazer ideia das emoções que agitavam o espírito de Elias ao aproximar-se daquela casa, e portanto me dispensarão da difícil, senão impossível, tarefa de descreve-las.

No momento em que Elias chegou, um homem cantava, acompanhando-se ao violão. Elias estremeceu ao ouvir aquela voz; parecia-lhe já a ter ouvido em alguma parte. Demorou-se um pouco no corredor até que acabasse o canto. A porta, que do corredor dava entrada para a sala, estava aberta de par em par.





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