O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 295 / 414

- Prezo-me de ter os autores mais ilustres, amigo Zuzarte! - disse com orgulho o Conselheiro.

Mostrou-lhe a História do consulado e do império, as obras de Delille, o Dicionário da conversação, a ediçãozinha bojuda da Enciclopédia Roret, o Parnaso lusitano. Falou dos seus trabalhos; e acrescentou que, vendo ali reunidas pessoas de tão subida ilustração, desejaria muito ler-lhes algumas das provas que estava revendo do seu novo livro - Descrição das principais cidades do reino e seus estabelecimentos, para ouvir a opinião deles, desassombrada e severa!

- Se não acham maçada...

- Prazer, Conselheiro! Prazer!

Escolheu então, "como mais própria para dar idéia da importância do trabalho", a página relativa a Coimbra. Assoou-se, colocou-se no meio da saleta, de pé, com as folhas na mão, e, com uma voz cheia, gestos pausados, leu:

- ... Reclinada molemente na sua verdejante colina, como odalisca em seus aposentos, está a sábia Coimbra, a Lusa Atenas. Beija-lhe os pés, segredando-lhe de amor, o saudoso Mondego. E em seus bosques, no bem conhecido salgueiral, o rouxinol e outras aves canoras soltam seus melancólicos trilos. Quando vos aproximais pela estrada de Lisboa, onde outrora uma bem organizada mala-posta fazia o serviço que o progresso hoje encarregou à fumegante locomotiva, vede-la branquejando, coroada do edifício imponente da Universidade, asilo da sabedoria. Lá campeia a torre com o sino, que em sua folgazã linguagem a mocidade estudiosa chama "a cabra". Para além logo uma copada árvore vos atrai as vistas: é a celebrada árvore dos Dórias, que dilata seus seculares ramos no jardim de um dos membros desta respeitável família. E avistais logo, sentados nos parapeitos da antiga ponte, em seus inocentes





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