E Sebastião, para a sossegar, propôs que viesse a tia Vicência, a preta, velar a Juliana.
- Era talvez melhor - murmurou Luísa.
Chegaram à porta de Sebastião. O frufru do vestido de seda de Luísa, àquela hora, na sua casa, dava uma comoção a Sebastião: a mão tremia-lhe ao acender as velas da sala. Foi acordar a tia Vicência para fazer chá; tirou ele mesmo os lençóis dos baús, apressado, feliz daquela hospitalidade. Quando voltou à sala, Luísa estava só, muito pálida, ao canto do sofá.
- Jorge? - perguntou ele.
- Foi ao seu escritório, Sebastião, escrever ao pároco para o enterro... E com os olhos brilhantes, numa voz sumida e assustada: - Então?
Sebastião tirou da algibeira a carteirinha de Juliana. Ela agarrou-a sofregamente - e com um movimento brusco tomou-lhe a mão e beijou-lha.
Mas Jorge entrava, sorrindo.
- Então agora está mais descansada, a menina?
- Inteiramente - disse ela com um suspiro de alívio.
Foram tomar chá. Sebastião contou a Jorge, corando um pouco, a maneira como entrara em casa, a Juliana lhe estivera a dizer que fora despedida, e falando, exaltando-se, zás, de repente, caíra para o lado morta...
E acrescentou:
- Coitada!
Luísa via-o mentir, olhando-o com adoração.
- E a Joana? - perguntou Jorge de repente. Luísa, sem se perturbar, respondeu:
- Ah, esqueci-me dizer-te... Tinha pedido licença para ir ver uma tia que está muito mal, para os lados de Belas... Diz que volta amanhã... Mais uma gota de, chá, Sebastião...
Esqueceram-se depois de mandar a Vicência - e ninguém velou a morta.