A excitação implícita na pergunta era por causa da lei que proibia a venda de álcool a soldados.
Rose concordou com entusiasmo.
- Tenho uma ideia - continuou Key depois de pensar um momento. - Tenho por aí um irmão.
- Em Nova Iorque?
- Pois. Já é velhote. - Queria dizer que era um irmão mais velho. - É criado de mesa numa taberna. - Talvez consiga arranjar-nos algumas.
- Claro que sim!
- Podes ter a certeza de que amanhã vou ver-me livre deste maldito uniforme. E espero nunca mais o usar. Vou comprar roupas normais.
- Olha que eu talvez não.
Como o dinheiro de ambos somado era menos de cinco dólares, estas intenções podem bem ser consideradas um divertido jogo de palavras, inofensivo e reconfortante. Parecia agradar aos dois, pois que o reforçaram com risos e referências a importantes personagens bíblicos, dando maior ênfase com expressões como «eh pá!» «estás-me a entender!» e «posso garantir-te!» repetidas muitas vezes.
Todo o alimento espiritual destes dois homens consistia em comentários sentidos e nasalados, prolongados através dos anos, acerca da instituição - exército, trabalho ou casas dos pobres - que os mantinha vivos, e acerca dos superiores imediatos dessa instituição. Até essa manhã a instituição tinha sido o «governo» e o superior imediato o «capitão»; destes dois haviam-se livrado e estavam agora naquela posição vagamente incómoda de descobrir a sujeição que se seguiria. Estavam inseguros, ressentidos e de certo modo pouco à vontade. Escondiam-se fingindo um grande alívio por estarem fora do exército e afirmando um ao outro que a disciplina militar nunca mais mandaria nas suas vontades teimosas e amantes de liberdade. No entanto, a verdade é que se teriam sentido mais na sua casa numa prisão do que nesta liberdade recente e indiscutível.
