Levantou-se desajeitadamente mas ela puxou-o para baixo, para o seu lado, nas escadas.
- Olha, Gordon. És ridículo. Estás a ofender-me. Estás a agir como um... como um louco.
- Admito que sim. Estou um tanto louco. Qualquer coisa em mim não bate certo, Edith. Qualquer coisa me abandonou. Não interessa.
- Interessa, sim. Conta-me.
- É isto. Fui sempre estranho, um pouco diferente dos outros rapazes. Portei-me bem na universidade, mas agora está tudo mal. Desde há quatro meses que qualquer coisa quer rebentar dentro de mim, como os colchetes de um vestido, e quase que está a sair, quando rebentarem mais alguns colchetes. Aos poucos estou a ficar imbecil.
Olhou-a bem e começou a rir, e ela encolheu-se afastando-se dele.
- O que é que se passa?
- Apenas eu - repetiu ele. - Estou a ficar imbecil. Todo este lugar me parece um sonho... este Delmonico.
Enquanto ele falava, ela viu que ele mudara completamente. Não estava de todo alegre e descuidado - uma grande letargia e o desânimo tinham-no invadido. De repente ela mudou e sentiu um ligeiro e inesperado aborrecimento. A voz dele parecia vir de um grande vazio.
- Edith, dantes eu pensava que era inteligente, talentoso, um artista. Agora sei que não sou nada. Não sou capaz de desenhar, Edith. Não sei porque estou a contar-te isto.
Ela abanou a cabeça com ar ausente.
- Não sou capaz de desenhar, não sou capaz de fazer nada. Estou pobre como um rato de igreja. Riu-se com azedume e um pouco alto demais. - Tornei-me um desgraçado de um pedinte, uma sanguessuga para os amigos. Sou um falhado. Sou um pobre como lobo
A repugnância dela aumentava. Desta vez mal abanou a cabeça, esperando uma deixa para se levantar.
De súbito os olhos de Gordon encheram-se de lágrimas.
