Quando voltei para baixo, encontrei Mrs. Mercer sentada perto do lume. Era uma mulher idosa, viúva de um usurário, que coleccionava estampilhas com qualquer fim piedoso. Tive que aguentar a conversa durante o chá. A refeição foi atrasada de uma hora e o meu tio sem aparecer. Mrs. Mercer levantou-se para se despedir: tinha pena de não poder esperar mais tempo, mas já passava das oito e não gostava de andar tarde pelas ruas, porque o ar da noite fazia-lhe mal. Depois, comecei a passear dum lado para o outro, de punhos cerra- dos. Minha tia disse-me:
- Parece-me que tens que ir outra vez ao bazar...
Às nove horas, a chave do meu tio rangeu na porta da rua. Ouvi-o falar consigo mesmo, e escutei o chiar do cabide quando recebeu o peso do sobretudo. No momento em que ele chegou a meio da refeição, pedi que me desse o dinheiro para ir ao bazar.
Ele esquecera-se.
- A estas horas, já as pessoas estão na cama, dormindo o primeiro sono - sentenciou.
Eu não sorri. Minha tia disse-lhe com energia:
- Dá-lhe o dinheiro e deixa-o ir, já o demoraste bastante...
Meu tio respondeu que tinha muita pena de se ter esquecido e que acreditava na velha frase: «Só o trabalho, sem brincadeira, faz de Jack um rapaz estúpido.» Perguntou-me onde é que eu ia. Depois de lho repetir já pela segunda vez, indagou se eu conhecia The Arab's Farewell to his Steed. Quando deixei a cozinha, ele preparava-se para recitar as primeiras linhas a minha tia.
Com um florim apertado numa das mãos, desci a Rua Buckingham, dirigindo- -me à estação. O aspecto das ruas atulhadas de compradores e brilhando com a iluminação, recordou-me o propósito da minha viagem.
Tomei lugar num compartimento de terceira classe, num comboio deserto. Depois de enorme demora, o comboio arrancou vagarosamente da estação. Serpenteou ao longo de casas arruinadas e da cintilação do rio.