A Confissão de Lúcio - Cap. 8: CAPÍTULO 6 Pág. 71 / 93

face dele, na mesma náusea que me provocaria uma mistura de toucinho rançoso, enxúndia de galinha, mel, leite e erva-doce…

Ao encontrá-lo - o que não era raro - eu não sabia nunca evitar um gesto de impaciência. Uma manhã por sinal nem almocei, pois, abancando num restaurante que não frequentava habitualmente, o alambicado personagem tivera a desfaçatez de se vir sentar diante de mim, na mesma mesa… Ah! que desejo enorme me afogueou de o esbofetear, de lhe esmurrar o narizinho num chuveiro de murros… Mas contive-me. Paguei e fugi.

Ora encontrar essa pequena galante de mãos dadas com tamanho imbecil - fora o mesmo do que a ver tombar morta a meus pés. Ela não deixara de ser um amor - é claro - mas eu é que nunca mais a poderia sequer aproximar. Sujara-a para sempre o homenzinho loiro, engordurara-a. E se eu a beijasse, logo me ocorreria a sua lembrança amanteigada, vir-me-ia um gosto húmido a saliva, a coisas peganhentas e viscosas. Possuí-la, então, seria o mesmo que banhar-me num mar sujo, de espumas amarelas, onde boiassem palhas, pedaços de cortiça e cascas de melões…

Pois bem: e se as minhas repugnâncias em face do corpo admirável de Marta tivessem a mesma origem? Se esse amante que eu ignorava fosse alguém que me inspirasse um grande nojo?… Podia muito bem ser assim, num pressentimento, tanto mais que - já o confessei -, ao possuí-la, eu tinha a sensação monstruosa de possuir também o corpo masculino desse amante.

Mas a verdade é que, no fundo, eu estava quase certo de que me enganava ainda; de que era homem bem diferente, bem mais complicada a razão das minhas repugnâncias misteriosas. Ou melhor: que mesmo que eu, se o conhecesse, antipatizasse com o seu amante, não seria esse o motivo das minhas náuseas.

Com





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